Meus caros amigos, a vida humana
tem se tornado muito veloz ao longo do tempo, de forma tal que às vezes não
conseguimos alcançar seu ritmo. Quando me refiro à velocidade, não estou
falando apenas da velocidade do corpo e de suas relações materiais com outros
corpos [todos os seres humanos ou não], mas também da velocidade ocorrida na
alma, em nossa psique. Esse fenômeno vem se desenvolvendo a cada dia que se
passa, afetando e sendo afetado, de imediato e ao longo prazo, de forma que
vivemos numa correria louca para alcançar certos patamares da vida humana,
porém há, certamente, efeitos sobre a mente humana como o fenômeno psicológico,
SPA [ Síndrome do Pensamento Acelerado] tanto falado pelo mestre Augusto Cury.
Esse processo de aceleração do corpo e da alma exigido pelas culturas no tempo
assemelha-se aos efeitos dos anabolizantes. As pessoas estão cada vez mais
inchadas, mas a maturidade e a sabedorias destas fica lá atrás no tempo, pois
estes são fenômenos da calmaria, observação, experimentação e equilíbrio da
alma.
Por vários motivos, entre eles o
genético e o espiritual, muitos indivíduos não conseguem andar no mesmo ritmo
de sua sociedade. Olhando para eles, parece que estão parados no tempo, mas ao
mesmo tempo nos questionamos se eles estão na velocidade correta e nós, seres
corredores, angustiados da vida, é que
estamos destoados no tempo. Também quero acrescer aqui o jogo teatral das aparências
em que pessoas se mostram avançadas quando são retardadas, ou seja, se mostram
maduras quando são infantis. Você, caro amigo leitor, deve conhecer algum
fulano assim, não é mesmo?
O retardamento mental pode
afetar todas as áreas da atividade humana ou apenas uma ou outra. Ou seja, um
indivíduo pode ser um ótimo profissional, maduro e equilibrado, porém em outros
setores de sua vida, como a vida sentimental e profissional, agir de forma
infantil.
Não vou deter-me nos casos
plurais, pois seria coisa para livro, mas devo focar nos casos naturais, mas
também sendo o mais breve possível. Nos casos naturais, o indivíduo, por força
da natureza e outras potências, tem seu amadurecimento mental retardado, de
forma que o corpo está sempre à frente da mente, tipo um adolescente com mente
de criança ou um adulto que vive feito um adolescente. Esse processo muitas
vezes é negado por ações externas, mas confessado em ações interiores, nos
conflitos, nos desejos, nos sonhos, nas lembranças e nos desejos de lembrança e
desejo de retorno de uma etapa passada ou mesmo a uma repetição da história. Muitas
vezes reclamamos e rimos do comportamento deles, mas, em muitos casos, eles não
podem fazer nada a respeito. Sendo assim, não há razão para nos queixarmos e
nem para rirmos. Eles, na maioria dos casos, não possuem autonomia para fazer
escolhas diferentes, mesmo que nós pensemos diferente disso.
Todas as pessoas estão presas ao tempo ou são
de certa forma saudosistas, principalmente da infância, como diz o poeta “Ah,
que saudade que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os
anos não trazem mais”. A intensidade desse saudosismo varia de pessoa a pessoa,
de momento a momento. Dependendo do volume de energia experimentado pelo
indivíduo, essa experimentação de um tempo passado através das lembranças,
poderá se tornar uma prisão no tempo.
Algumas pessoas ficam presas às
sensações e amores do passado de tal forma que parece que não há e nem haverá
encanto, amor e poesia da vida semelhante ao de outrora. Eles amam mais o
passado do que o presente. Andam para trás! Mas não julgo como algo mau, mas
apenas penso o processo, pois talvez apenas lá, naquele lugar distante e
passado é que eles sejam capazes de amar e ser feliz. Eles não são capazes de
amar aqui e agora, então, meu amigo não os prenda a um tempo que não os fazem
felizes. Isso é muito pessoal, sabia? Boa parte deles termina, na fuga da
tristeza do amor platônico, amando por amar, porém sempre presos por dentro à
utopia de si e de sua história, do encanto e do tempo. Enquanto não se
libertam, vivem suas angústias e arrependimentos e desentendimentos com a vida
por não lhes proporcionar a possibilidade de viver seu encanto. Eles têm a
sensação de que a vida e a poesia escaparam-lhes por entre os dedos.
As pessoas que vivem ao redor do
retardado, amigos, colegas, familiares e comunidade, o pressionam, impondo seu
comportamento mental como problema, que talvez nem seja, a não ser que afete a
terceiros. Esse tipo de pessoa desenvolve temas e pensamentos peculiares, ora
sadios e benéficos, ora danosos a si e a sociedade. Em alguns casos até conseguem ser convencidos
de seu atraso mental e comportamental, porém isso não significa que conseguirá
ser diferente de si para ser igual à sociedade. Em outros tantos casos, a
pessoa não acredita ser errado e segue sua vida de sua maneira, ou seja, da
maneira como tinha de viver e ser, na sua velocidade, no seu tempo e nas suas
reminiscências, dentro daquilo que a vida lhe propõe. Mas será que deveria ser
daquela forma ou deveria viver de outra forma mais intensa? Viver diferente
poderia até proporcionar uma vida melhor, mas isso significaria agressão a sua
vida e batalha intensa, tornando a vida sofredora no presente. Talvez a
calmaria e conformação com seu jeito de ser sejam mais interessantes, sendo
essa decisão pessoal, quando é possível.
... mas independente do processo
que estejamos experimentando, é importante que
pensemos um pouco sobre se é preciso reduzir ou aumentar a velocidade,
porém com muita cautela e sem grandes cobranças.
Por MAGNO HOLANDA
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