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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

RELACIONAMENTO SUPERFICIAL


Nestes dias atuais se dá mais valor às paixões e desejos sexuais do que ao amor. Às vezes as pessoas estão totalmente confundidas, como talvez tenha se confundido a escritora portuguesa Florbela Espanca da primeira metade do século XX, quando disse:
“Quem disser que se pode amar alguém
A vida inteira é porque mente!’’.
O amor é um laço que preserva as pessoas unidas. Algumas pessoas estão sentindo desejo de consumo, de ter a outra para uma relação sexual e pensam estarem amando. Pessoas casam-se hoje já pensando em divorciarem-se amanhã. Juram fidelidade eterna, mas não conseguem permanecer unidas, pois as mudanças sociais ocorridas hoje têm tornado um relacionamento extremamente difícil e complexo e, isto é suficiente para abalar e enfraquecer qualquer vínculo, porque o papel 'negativo' que as mudanças sociais, a carência de maturidade, a decadência de bons costumes e da sensibilidade religiosa, exercem sobre os casais, num contexto geral, é muito grande e quase sempre os leva a se separarem. Por isso que afirmo que os dias atuais são mais difíceis para a realização não apenas sexual, mas em amor. Isto tem marcado de forma tão forte as pessoas que alguns chegam a um exagero como neste poema de Carlos Drummond de Andrade; “as casas ainda restam, os amores, mas não’’. Porém, mesmo em meio a essas confusões deste mundo moderno, ainda existe o amor e ele permanece vivo como o centro da existência humana, mas existe um grau de dificuldade maior de compreendê-lo e encontrá-lo. Mesmo tendo atravessado tantas dificuldades para sobreviver até os dias atuais, o amor não perdeu suas características e permanece o mesmo, pois sempre será benéfico e voluntarioso no fazer o bem a quem ama e, principalmente, no respeito às decisões pessoais de cada pessoa. O processo do amor se dá nas pessoas como no nascimento de uma criança, onde os pais precisam cuidar e alimentar para que este venha a crescer e chegar a ser um adulto saudável. O amor deve ser cultivado e alimentado senão poderá vir a falecer como na narração da história de Mercedes e Castrão; “De tarde ao dobrar uma esquina, aquele encontrão.Mercedes pires nem reparou nele, que foi sua grande paixão. Anicete de castro, o castrão das rendas aduaneiras, também em Mercedes não reparou.
Esteve na curva de 1922, a pique de meter uma bala no casco pela beleza de Mercedes. E Mercedes, pelo bem-querer de Castro, quase abriu os pulsos com uma faca de cortar mortadela. Do talho aos jornais era pulo de periquito. E até imaginou os berros das manchetes: “linda moça de cordovil morre por amor impossível! ’’. Mas entre o tiro que não houve e a facada que não cortou, a folhinha de parede desfolhou quarenta bem passados anos.
E, de repente, na dobra da esquina, aquele esbarrão. Castro nem reparou em Mercedes. Falou para dentro, para o ouvido de seu suspensório:
-          Uma ilha dessa tonelagem devia andar no meio da rua, com placa de caminhão nas costas...
Mercedes que também não tinha reparado em Castro, falou sozinha:
-Cada tipo esquisito! Parece de tão gordo que está esperando criança. Se tivesse espelho em casa devia reparar que aquela sua cara de engomador elétrico não pode usar óculos... ’’(História retirada do curso de Redação da editora Sivadi, 1995). 
O centro existencial do amor é ter a outra pessoa como gente e desejar fazê-la feliz, mesmo que isto custe caro para você, porque amar é entregar-se, dar-se ao outro, não falo das posses, do corpo ou do “eu’’ superficial, mas do meu interior, do meu ser verdadeiro. Não devemos apreciar apenas seus teres físicos, econômicos, estéticos, pois assim estaremos tendo a pessoa apenas como um objeto e não como pessoa, pois este último só se dá quando você estiver interessada em sua essência, ou seja, no seu ser como um todo, pois a civilização moderna insiste em viver desta forma triste que é ter o outro como um objeto de seu interesse. O cinema, a televisão e todos os meios de comunicações vêm propagando isto, e nós, infelizmente, gostamos de copiar o que é ruim. Os relacionamentos são muito superficiais, onde não há preocupação com a outra pessoa, não há desejo de sacrificar-se para melhorar em função de agradar, mas é preferível terminar um relacionamento que ter de tolerar e ceder algumas coisas. É assim, pois quando há uma visão da outra pessoa apenas como objeto de consumo ou instrumento por meio do qual conseguirá certos objetivos, então não existe amor, mas apenas interesse no corpo, onde a outra pessoa é encarada como simples objeto de prazer, como resposta aos “intentos humanos’’, ou seja, a outra pessoa torna-se instrumento de prazer, válvula de escape, física ou psicológica. Por isso, existem milhões de pessoas que são revoltadas, porque não puderam experimentar o amor, pois em seus relacionamentos foram tidas apenas como objetos e, isto lhes doeu bastante. Algumas pessoas têm um sentimento de vingança, então começa a ofender ou usá-las da mesma forma que foi usada. O desejo destas pessoas, na verdade, não é vingar-se, mas encontrar alguém que redima a culpa dos outros, mas não têm agido da forma mais correta, e isto poderá levá-las a nunca encontrar alguém.
Há casos em que o relacionamento parece ser de dois irmãos ou de pai e filha fazendo que o outro cônjuge venha na sua psicologia interna a confundi-lo com um parente e, consequentemente não desejá-lo mais. Há outros casos em que a pessoa leva o seu ser individual para dentro do relacionamento, ou seja, leva consigo os hábitos que atrapalham o relacionamento; a mentalidade egoísta, sua liberdade pessoal, ser excessivamente ciumenta, impor seu ponto de vista sem querer saber o que a outra pessoa pensa. Perceba que este não é o melhor caminho a seguir, porque você deve examinar e ver as tragédias bem conhecidas do ciúme, do excesso de autoridade, sobretudo dos homens, que são a expressão típica de um comportamento possessivo e, portanto egoísta. O que mais desgasta em relacionamentos é o ciúme. Tem gente que exagera e termina por aprisionar seu companheiro nas grades de uma idolatria boba. Há pessoas que têm ciúmes até mesmos de objetos e ficam o tempo todo vigiando o parceiro, causando um desgaste enorme e, em muitos casos, termina em separação. Acredite na outra pessoa, porque a base de todo o bom relacionamento está na confiança mútua entre ambos, mas se não existe confiança, não vale mais a pena continuar. Pare e pense, por favor; Se o outro quiser lhe trair, quem é que vai impedir? Não é sua pressão que vai  fazê-lo mudar de ideia, mas ao contrário vai dar-lhe um empurrãozinho. É preciso que haja mudança e que retire esta cara feia e autoritária, passando a escutar a outra pessoa. Portanto, se os dois buscarem o melhor para a sobrevivência da relação, então nada será capaz de deter uma vida saudável e feliz. Por isso é muito importante que as pessoas envolvidas procurem amadurecer e saber como lidar com as coisas relativas ao amor.


Por MAGNO HOLANDA



Um comentário:

  1. É visível nos dias de hoje a superficialidade nos vínculos afetivos. Não se cria laços profundos e acaba-se por não viver experiências afetivas de qualidade, seja com filhos, pais, cônjuge, namorados, amigos. A superficialidade aparece no "ficar" dos adolescentes, pode estar também nos altos índices de divórcio, separações e , talvez, no aumento das relações não oficializadas que existem hoje em dia, como o "morar junto" ou nas várias outras formas de união.

    Existe sim uma abertura social, que por um lado é positiva, que favorece a todos nós, oferecendo novas possibilidades nas várias configurações parentais e familiares, nos vínculos afetivos, enfim... Temos portanto maior liberdade para escolher como queremos nos relacionar. Por outro lado, será que não estamos perdendo algo de bom nesta mudança?

    Indo mais a fundo, cada um de nós tem motivações, não conscientes, em cada escolha que fazemos a todo momento. E nem sempre escolhemos o que seria o melhor pra nós.

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